Transposição do São Francisco: incoerências do projeto

Alexandre L. Godinho  
 

Área da bacia do rio São Francisco

 

Muito tem sido dito sobre a inviabilidade do projeto de Transposição do rio São Francisco, ou agora maquiadamente denominado “Projeto de Integração da Bacia do São Francisco às Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional”. Dos 44 impactos listados no Relatório de Impacto Ambiental, somente 11 são considerados positivos e muitas incertezas ainda pairam inexplicadas nessa discussão. Além dos potenciais impactos sobre os peixes, o projeto de transposição apresentada outros problemas. Primeiramente, regiões áridas não são próprias para incentivo de adensamento humano. O atual projeto, além de teoricamente melhorar a condição de vida dos que lá já se encontram pode, por outro lado, incentivar o aumento de sua população. Isso acarretaria novos problemas e necessidade de mais água no futuro.

Também muito se ouve de especialistas, inclusive nordestinos, que é possível aumentar a oferta de água para a população da região através da interligação mais eficiente dos açudes existentes, coleta de água de chuva e armazenamento, e perfuração de poços artesianos. Diz-se que a água armazenada atualmente é bastante para manter a população e que não é utilizada para reservar para épocas de seca mais severa.

A água que atualmente flui pelo rio São Francisco, abaixo do ponto de captação previsto, passa por 5 grandes usinas hidrelétricas. Além de restringir a produção energética numa região ainda carente desse insumo, a elevação da água por meio de potentes bombas (160 m no eixo norte e de cerca de 300 m no eixo leste) consumirá, por outro lado, porção relevante da energia produzida na região.

Surgem também suspeitas de que o equipamento a ser comprado para o bombeamento teria sido adquirido por outro país e não foi utilizado. Será que essas bombas são dimensionadas para o volume projetado para a nossa transposição ou para o projeto do outro país?

O Governo garante que a transposição visa exclusivamente o abastecimento humano. Mas sabe-se que outros grandes grupos têm seus interesses: as fazendas de camarões e de criação de tilápias em larga escala, os grupos produtores de frutas irrigadas, as empreiteiras que conduzirão a obra e os fornecedores de grandes volumes de cimento e ferro, entre outros.

Mesmo desconsiderando tudo o que foi dito acima, quem garante que os 720 km de canais a céu aberto, revestido de concreto, não serão ocupados pela população carente? Existe o risco de uma verdadeira favelização desses canais, trazendo junto o lixo e esgotos produzidos. A possibilidade de perda da qualidade da água é iminente. Sem se considerar a presença de animais, também muito provável.

Em se falando dos canais, numa região de temperaturas médias elevadas, haverá evaporação de grande quantidade da água originalmente bombeada. Esse aspecto é abordado nos estudos, mas nem todos têm conhecimento dele

 

Para saber mais

 


Texto adaptado de Alves, C.B.M. Transposição do São Francisco: incoerências e os peixes. Jornal do Biólogo - Informativo do Conselho Regional de Biologia - 4ª Região, Belo Horizonte, p. 6 - 7, 2005. por Lívia Aguiar

Publicado em  22 de agosto de 2006

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