Engenharia abre horizontes da pesca
Folha de São Paulo - Márcio Pinho - 13 de setembro de 2006
Diferentemente da
primeira impressão que o nome pode dar, engenharia de pesca não
é apenas a profissão das técnicas que melhoram a captura de
peixes. Considerado um "eclético" do setor, o engenheiro de
pesca tem um campo de atuação que passa pela participação no
cultivo, na industrialização e na gestão sustentável de recursos
naturais.
Apesar de ser uma profissão recente (chegou ao Brasil na década de
70), os engenheiros de pesca estão ganhando um mercado antes
ocupado principalmente por biólogos. Hoje, eles já são entre 6.000
e 8.000 no país, segundo cálculos da UFRPE (Universidade Federal
Rural de Pernambuco).
O
potencial para o cultivo da extensa costa brasileira colaborou
para esse desenvolvimento. Um dos ramos que mais crescem é a
aqüicultura, que utiliza técnicas como a criação de fazendas e
viveiros em tanques-rede para a produção de peixes em água doce e
salgada.
De
acordo com Felipe Matias, um dos diretores da Secretaria Especial
de Aqüicultura e Pesca do governo federal, a criação "artificial"
pulou de 14,6% da produção de pescado no Brasil, em 1998, para
aproximadamente 30% em 2005. Já um estudo do Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
mostra que, desde 2002, a produção por aqüicultura é maior que a
da pesca continental, que é feita em rios e açudes, por exemplo.
"A
pesca está em crise. Foi sempre tratada como recurso infinito. É
preciso garantir que os estoques se reproduzam", afirma Matias.
Curso
A
necessidade de praticar uma pesca responsável que respeite o
ambiente impulsionou a criação dos primeiros cursos de engenharia
de pesca no Brasil na década de 70. Um dos pioneiros foi o da
UFRPE.
Segundo seu coordenador, Vanildo Souza de Oliveira, o aluno
aprende o básico de engenharia no primeiro ano e, nos semestres
seguintes, entram na grade matérias mais específicas, relacionadas
ao cultivo, à navegação, ao processamento e à captura.
A
duração média do curso é de cinco anos, e é preciso fazer estágio
para se formar.
Apesar de o mercado de trabalho ser atraente, ainda são poucas as
universidades que oferecem a graduação no país. De acordo com
dados do Ministério da Educação, aparecem registradas apenas
instituições do Amazonas, Pará, Ceará, Rio Grande do Norte,
Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná.
A
concentração no Nordeste acontece porque lá estão os principais
Estados produtores de pescado do país. Entretanto, as técnicas e
os equipamentos ainda são artesanais e não alcançaram um nível de
desenvolvimento igual ao da pesca industrial, mais praticada no
Sul e no Sudeste.
"Aqui
a pesca artesanal é uma realidade. Há pescadores e comunidades que
dependem dela. O engenheiro de pesca é quem leva o conhecimento
técnico, é praticamente um assistente social", diz Oliveira. O
coordenador afirma que as tecnologias da profissão trazem
benefícios para a população nordestina e cita como exemplo a
criação de peixes em açudes no rio São Francisco, por meio da
aqüicultura.
Mais
industrializados na pesca, o Sul e o Sudeste não apostam na
formação de engenheiros de pesca. Nessas regiões é mais comum o
curso de oceanografia, em que os alunos se aprofundam nas
condições geográficas e biológicas dos mares. Porém, a carreira
não tem como ponto forte a produção de alimentos, uma das
principais diferenças em relação à engenharia de pesca. |