Etnoictiologia entre famílias de pescadores da represa de Três Marias
Tabus alimentares
Restrições alimentares a determinados peixes são usualmente
encontradas entre famílias de pescadores e podem ser consideradas
como tabus. As preferências alimentares do peixe, o paladar, o cheiro,
a aparência exótica e a qualidade do meio onde o peixe vive
foram fatores motivadores preponderantes. Situações
específicas como gravidez, resguardo e determinados problemas de
saúde também contribuem para definir evitações.
Apesar dos tabus serem freqüentes, muitos são difíceis
de serem verificados na prática.
A pirambeba (Serrasalmus brandtii) não é consumida.
As explicações êmicas deste comportamento, isto é,
informadas pelos entrevistados e entrevistadas, estão baseadas
principalmente na presença de muitas espinhas e pouca carne, no seu
comportamento agressivo e na crença de que a pirambeba se alimenta
de cadáveres humanos.
Os peixes de couro, como o mandi (Pimelodus maculatus), não
são consumidos pelas mulheres, principalmente na época de
resguardo, pois acreditam que esses peixes têm "reima", podendo despertar
ou acentuar doenças.
Importância medicinal de alguns peixes
A importância de determinados elementos da fauna de peixes na cura
alternativa de doenças é uma prática bem estabelecida
em comunidades de pescadores.A carne do peixe é considerada mais
saudável que outras. Na represa de Três Marias, as famílias
dos pescadores utilizam seis espécies de peixes para diversas finalidades
terapêuticas: gripe, dor de ouvido, cólica de rins, frieira,
dentre outras. Em geral, a cabeça, a banha e o fel são as partes
mais utilizadas dos peixes. As utilizações podem ser feitas
através de simpatias, uso direto como alimento, preparo de chá
e preparo de gordura para aplicação.
Alguns exemplos de uso medicinal são: a gordura das curimatás
(Prochilodus affins, Prochilodus marggravii) para a gripe e
as pedras (otólitos) da corvina (Pachyurus squamipinnis) tanto
para cólica dos rins (chá) quanto para feridas e machucados
(aplicação direta).
Para saber mais
Contribuição de Elisa Furtado
Publicado em 30 de
outubro de
2001 |