A pesca nas corredeiras de Buritizeiro

 

Buritizeiro é a cidade em primeiro plano, Pirapora está ao fundo. Entre as duas está a ponte Marechal Hermes e, circundado pela linha amarela, o pesqueiro das corredeiras de Buritizeiro

 

Entre as cidades de Buritizeiro e Pirapora, em Minas Gerais, as águas do São Francisco passam uma série de corredeiras que se estendem por cerca de 600 metros a partir da ponte Marechal Hermes. Além da beleza proporcionada pelas quedas d'água, as corredeiras oferecem boas condições para a pesca. Essa vem sendo realizada desde a época dos índios Cariris e, embora proibida pela legislação federal, permanece até os dias atuais.

Diferentes estratégias de pesca são aí praticadas, mas uma se destaca pelas suas peculiariedades. Ela é praticada numa pequena área de cerca de 2 hectares, durante as 24 horas do dia, todos os dias do ano, por cerca de 43 pescadores, incluindo uma pescadora. Para que todos os pescadores dessa comunidade possam pescar numa área tão reduzida surgiu um sistema de pesca em turnos. A cada turno, pescam até quatro pescadores simultaneamente mas, mais freqüentemente, um ou dois. O direito de pescar na área é herdado do pai pelo filho ou adquirido "comprando-se a hora". Os intrusos são afastado, às vezes, de maneira violenta embora, a eles, dá-se o direito de pescar em determinados trechos da área.

Antes de descer para o rio, o pescador "toma conta da hora" para que seu turno não seja tomado por outro. Caso o "dono da hora" não queira pescar, ele pode passar a "hora" para outro; sendo o produto da pesca, nesse caso, dividido entre os dois. O pescador que não tem "hora" ou que não marcou horário, pode pescar abaixo do pesqueiro a qualquer momento.

A pesca ocorre normalmente desembarcada e o pescador percorre o pesqueiro andando ou nadando de uma laje para outra. Quando realizada em dupla, utiliza-se barco de madeira para explorar a área.

O equipamento mais freqüentemente empregado é a tarrafa. Utiliza-se também o colfe (cesto cônico de arame armado com a boca voltada para a correnteza), o caçador (anzol com isca viva) e, às vezes, a rede de espera.

O produto da pesca é repassado, na maioria das vezes, para peixarias ou atravessadores que vendem o peixe de bicicleta pela cidade. Vendas diretas ao consumidor são raras.

  Alexandre L. Godinho
 

Vista parcial das corredeiras de Buritizeiro. Estão acima retratadas as diversas lajes de onde os pescadores lançam suas tarrafas.

A pesca nas corredeiras de Buritizeiro foi acompanhada durante 91 dias do ano de 1999. Foram capturados 2.355 kg de peixes, correspondentes a 2.083 indivíduos pertencentes à 22 espécies. Com 998 kg, o curimbatá-pacu foi o peixe mais capturado, seguido do surubim (340 kg), dourado (210 kg) e pirá (196 kg). Essas quatro espécies em conjunto perfizeram 74% de toda a biomassa apanhada.

Durante o turno de pesca, cada pescador capturou em média 4 kg de peixes, o que é semelhante ao de outras estratégias de pesca na região. O mês de menor captura foi agosto com média de 1,5 kg de peixes/turno/pescador. A maior média foi registrada no mês de novembro com 7,5 kg.

Uma característica da pesca nas corredeiras é a captura freqüente de peixes abaixo do tamanho permitido por lei. Assim, 88% dos curimbatás-pacu, 70% dos dourados, 76% do surubins e 73% dos pirás eram menores que o mínimo permitido.

Embora a pesca nas corredeiras de Buritizeiro concentre-se em peixes de tamanho ilegal, seu sistema de turnos e baixo rendimento nos leva a crer que a questão de sua ilegalidade deveria ser revista. A eventual legalização dessa pescaria não poder seguir os modelos tradicionais existentes pois interferiria na sua organização, levando ao aumento do número de pescadores atuando na área.

Para saber mais

 


Contribuição de Alexandre L. Godinho

Publicado em  25 de março de 2003

Atualizado em 28 de setembro de 2007

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