Refúgio de vida silvestre do rio Pandeiros
Alexandre L. Godinho |
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Em primeiro plano, o rio Pandeiros, e ao fundo, o rio São Francisco .
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Em 2004, através do
Decreto nº 43.910 a área do “Pantanal do Rio Pandeiros” se tornou um
Refúgio de Vida Silvestre, um dos tipos de unidade de conservação do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), cujo objetivo é
proteger a ictiofauna da bacia do rio São Francisco, em especial as
espécies migradoras, através da preservação das áreas alagáveis e
lagoas marginais do rio Pandeiros. Esse rio é tido como um berçário
natural para os peixes do rio São Francisco. Por esse motivo e por
constituir-se em extensa área alagada, principalmente no período das
cheias, é denominada de “Pantanal Mineiro”. Além de sua importância
biológica, a beleza cênica da região corrobora a necessidade de
proteção. Possui área de 6.102 há.
Em estudos realizados
na década de 1980, através de coletas de peixes na calha do rio
Pandeiros, em sua área alagada e em suas lagoas marginais, foram
registradas várias espécies de peixes de piracema (migradoras) e de
importância comercial, tais como o dourado (Salminus
brasiliensis); surubim ( Pseudoplatystoma corruscans);
curimatá-pacu (Prochilodus argenteus); curimatá-pioa (Prochilodus
costatus); matrinchã (Brycon orthotaenia);
piau-verdadeiro (Leporinus obtusidens); pacu (Myleus
micans); piau-branco (Schizodon knerii);
piranha (Pygocentrus piraya); traíra (Hoplias
malabaricus) e pacamã (Lophiosilurus alexandri).
A riqueza de espécies verificada certamente é ainda maior, fato a
ser comprovado caso haja a intensificação de amostragens
experimentais na região.
A região alagada e as
veredas do rio Pandeiros figuram entre as áreas prioritárias para
conservação do bioma do Cerrado. Desde 1999 é também considerada
prioritária para conservação no estado de Minas Gerais na categoria
Importância Biológica Especial (a mais alta dentre os cinco níveis
utilizados), por constituir-se em ambiente único no estado e possuir
alta riqueza de espécies de distribuição restrita. Em recente
revisão dessas áreas de Minas Gerais, foi mantida a área de “várzeas
do médio São Francisco” na categoria “Especial”. Atualmente
entende-se que é necessária a ampliação de estudos em ambientes de
veredas e Unidades de Conservação já estabelecidas, caso da APA
(Área de Proteção Ambiental) e o Refúgio de Vida Silvestre do Rio
Pandeiros.
A importância das
lagoas marginais para o recrutamento dos peixes na bacia do rio São
Francisco. As espécies de piracema alcançam esses ambientes no
período das enchentes e ali se desenvolvem até retornarem ao rio
principal em cheia subseqüente. No entanto, já se sabe que a maioria
das espécies não migradoras conseguem se reproduzir em lagoas
marginais. Considerando-se os impactos aos quais os peixes se
encontram submetidos na bacia do rio São Francisco como um todo, e
em especial na região considerada, a proteção do rio Pandeiros, sua
área alagável e lagoas marginais é uma ação efetiva para garantir a
conservação de ictiofauna. Além do imediato reflexo local, essa
medida poderá afetar positivamente as populações de espécies
migradoras no trecho da bacia delimitado pelas barragens de Três
Marias (MG) e Sobradinho (BA).
Para saber mais
- Britski, H.A.; Sato, Y.; Rosa,
A.B.S. 1988. Manual de identificação de peixes da região de Três Marias. Brasília, Câmara dos Deputados/ CODEVASF, 143p.
- Costa, M.R.C.; Herrmann, G, Martins,
C.S.; Lins, L.V. & Lamas, I.R. (orgs.) 1998. Biodiversidade em
Minas Gerais: um atlas para sua conservação. Belo Horizonte:
Fundação Biodiversitas, 94 p. ilust.
- Drumond, G.M., Martins, C.S.,
Machado, A.B.M., Sebaio, F.A. & Antonini, Y. 2005.
Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação.
Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas. 222 p. ilust.
- Godinho, H.P. 1986. Pesquisas
ictiológicas no rio Pandeiros, MG. Relatório técnico, CEMIG.
73p.
- Lins, L.V.; Machado, A.B. M.; Costa,
C.M.R. & Herrmann, G. 1997. Roteiro metodológico para elaboração
de listas de espécies ameaçadas de extinção (contendo a lista
oficial da fauna ameaçada de extinção de Minas Gerais).
Publicações Avulsas da Fundação Biodiversitas, 1:1-49.
- CONSERVATION INTERNATIONAL DO
BRASIL. 1999. Ações prioritárias para a biodiversidade do
cerrado e pantanal. Brasília. 26p.
- Pompeu, P.S. 1997. Efeito de uma seca prolongada
e das estações seca e chuvosa nas comunidades de peixes de três
lagoas marginais do médio São Francisco. Dissertação de Mestrado
em Cologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 72 p.
- Sato, Y. & Godinho, H.P. 2004.
Migratory fishes of the São Francisco river. In: Carolsfeld, J.;
Harvey, B.; Ross, C. & Baer, A. Migratory Fishes of South
America: Biology, Fisheries, and Conservation Status. 380 p.
- Sato, Y.; Cardoso, E.L. & Amorim,
J.C.C. 1987. Peixes das lagoas marginais do São Francisco a
montante da represa de Três Marias (Minas Gerais). Brasília,
CODEVASF, 42p.
Contribuição de Carlos B.
M. Alves, adaptado do Parecer Técnico elaborado
em 8 de setembro de 2004 para o Instituto Estadual de Florestas (IEF)
para embasar a criação do Refúgio Estadual de Vida Silvestre do Rio
Pandeiros.
Publicado em 26 de
setembro de
2006 |