Cheia induzida: manejando a água para restaurar a pesca
Alexandre L. Godinho |
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Vista aérea da represa de Três Marias |
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O rio São Francisco
era um dos principais sítios da pesca interior do Brasil, mas sua
produção pesqueira diminuiu consideravelmente e ainda continua em
declínio. A falta de cheias expressivas ao longo da década de 1990 e
começo da de 2000 está entre a causa mais provável da redução recente
da pesca. Sem as cheias, as lagoas marginais não funcionam mais como
os principais berçários dos peixes importantes para a pesca. Umas das
maneiras de restaurar a pesca no rio São Francisco é liberar água da
represa de Três Marias para aumentar a cheia (cheia induzida).
No entanto, várias
perguntas precisam ser respondidas antes de se provocar uma cheia
induzida. Algumas dessas são:
a) Qual a melhor data para a sua
realização?
b) Qual o volume de água necessário para a
cheia induzida?
c) O reservatório de Três Marias acumula
água suficiente para uma cheia induzida?
d) Qual será a perda de receita da usina
de Três Marias com a cheia induzida devido a não-geração de energia
elétrica?
Estudos sobre a
desova de peixes do rio São Francisco e sobre a hidrolologia e geração
de energia elétrica da represa de Três Marias obtiveram as seguintes
respostas para essas perguntas:
a) A melhor data para
realizar a cheia induzida é quando cheias naturais estiverem ocorrendo
nos tributários a jusante da represa de Três Marias;
b) O volume de água
necessário para uma cheia induzida com duração de 2 dias é 0,380
bilhões de m3 e de 2,195 bilhões de m3 para uma
cheia de 8 dias;
c) O volume de água
necessário para uma cheia induzida representa, em média, de 4,4%, para
um cheia de 2 dias, a 25,4%, para uma cheia de 8 dias, em relação ao
volume útil;
d) A perda de
receita, que depende do custo da energia elétrica, poderá variar de R$
1,059 milhão, para uma cheia de 2 dias, até R$ 14,820 milhões, para
uma cheia de 8 dias.
Embora a perda de
receita possa ser elevada, particularmente para uma cheia mais longa,
o eventual aumento da receita da pesca poderá superar a perda.
Texto adaptado de Godinho, A.L.; Kynard, B. & Martinez, C.B. Cheia induzida: manejando
a água para restaurar a pesca, p. 307-326.. In: Godinho, H.P. &
Godinho, A.L. (ed). Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, 2003. por Lívia Aguiar
Publicado em 02 de
agosto de
2006 |