Depoimentos de pescadores profissionais sobre a pesca

Alexandre L. Godinho  
 

"Dizem que o pescador profissional é o predador do rio. Mentira! Quem depreda o rio é o amador, que chega dizendo que vai pescar de molinete e, lá no barco dele tem a rede bem sofisticada, ele tem arpão lá. Nós, hoje, vivemos com uma canoa velha e um pedaço de rede. Ainda o pescador amador atrapalha o lanço de rede do profissional (...) querem fechar a pesca por cindo anos. Tá escrito no Código de Pesca que um deputado da região montou. Faz do que o pescador vai viver nesses cinco anos? Esse deputado, graças a Deus, não foi reeleito"
Sr. Milton, presidente da Colônia de Pesca Z-2. Município de Januária/MG
 

"Amador, poluição, barragem são os que tão acabando com a pesca. Tem jeito de acabar com a poluição, mas não com a barragem."
Sr. Luís, 43 anos, pescador profissional. Pirapora/MG
 

"Geralmente a gente é procurado por gente da cidade pra obter a carteira de pescador e o que a gente faz é o cadastro. Mas quem faz sindicância, analisa a vida pregressa de quem quer tirar a carteira é o IBAMA e a Florestal. A Florestal tem poder de polícia para isso. Se alguém tá querendo a carteira só prá obter seguro-desemprego. O delegado do Trabalho já teve aqui perguntando isso e eu respondi que se eu fiz é com a Florestal que ele tem que falar, porque foi ela que fez a carteira e não a Colônia."
Sr. Milton, presidente da Colônia de Pesca Z-2. Município de Januária/MG
 

"Aos 11 anos trabalhei na construção da ponte e i passar um cardume de curimatã e fiquei impressionado. No dia seguinte, coloquei uma isca num galho e pesquei um. Quando eu ia adiante com o galho e o peixe um moço passou e falou; 'ô menino, quer vender esse peixe prá mim?' Aí, ele ofereceu um dinheiro que levaria 30 dias para eu ganhar na construção e eu fiquei satisfeito. Logo depois, mudou para cá uma família vinda de Pirapora e o pai era pescador. Eu me entrosei com os filhos, que eram da minha idade e os que eram mais velhos, me ensinaram a botar tarrafa e eu comecei a pescar. E venho dali prá cá, acompanhando sofrimento do rio.. Conforme ele sofre a gente sofre também."
Sr. Norberto, 51 anos, pescador profissional. São Gonçalo do Abaeté/MG
 

"A gente morava na roça e a pesca era um gostar. A gente fazia pescar porque gostava. E ganhava um dinheirinho."
Sr.Luís, 43 anos, pescador profissional. Pirapora/MG
 

"A gente veio parar na pesca porque não tinha outro emprego prá gente na cidade. Nem nunca veio a ter, de forma que a gente tá aqui até hoje, nesse sofrimento"
Sr. José, 53 anos, pescador profissional e vice presidente da Colônia de Pesca Z-1. Pirapora/MG
 

"Não desejo pros meus filhos um futuro na pesca porque a pesca não tem futuro"
Sr. Luís, 43 anos, pescador profissional. Pirapora/MG

 


Depoimentos coligidos por Nivaldo Nordi

Publicado em  30 de outubro de 2001

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